sábado, 11 de outubro de 2014

Reflexões sobre a morte



Há um ano atrás eu dirigia pela estrada, atravessando a Chapada Diamantina, rumo à Vitória da Conquista, sem saber que alguns quilômetros na frente sofreria um acidente. Lembro-me das reflexões que fiz durante o caminho, de observar como a Chapada estava seca, de planejar momentos futuros... e esses momentos poderiam não ter chegado.


A morte é tão real quanto a vida. E chega de repente, sem perguntar se estamos prontos ou não. E nunca estamos. Nunca estamos preparados para aquilo que tememos. E tememos tanto, que transformamos o assunto num tabu. Não se fala disso com naturalidade, mas como se estivéssemos falando de um monstro, de uma maldição. E a morte é tão real e determinante quanto a vida...talvez até mais.


Por não pensarmos na morte, acabamos por não pensar também na vida. Isso porque nos ocupamos sempre de planos futuros, de saudades passadas, de conquistar, adquirir, e não nos damos conta de que tudo isso é frágil, pois a qualquer momento, um acidente ou qualquer outro imprevisto, pode nos tirar daqui e tudo se interrompe.


Se eu tivesse morrido naquele acidente, no dia 11/10/2013, teria deixado para trás tudo de material que adquiri, e nada disso teria mais importância pra ninguém agora. Nenhum dos meus planos pro futuro se concretizaria, não teria importância pra ninguém as coisas que vivi ao longo da vida. Claro que os que me amam ainda sentiriam minha falta, mas todos já teriam seguido suas vidas, porque o tempo não pára para que a gente sofra. A vida segue!!!


E minha vida também seguiria, só que de uma outra forma. Se existia em mim qualquer dúvida a respeito da vida após a morte, isso se dissolveu nas duas experiências de "quase morte" que tive. Sim, minha vida seguiria e eu só levaria comigo minhas lembranças, o que marquei em minha alma de bom ou de ruim. Portanto, a maneira como vivemos aqui determina o tamanho do peso que levaremos quando partirmos. E não se enganem: a única coisa certa nesse mundo é que todos iremos partir, e ninguém sabe quando.


Por isso, um pensamento me passa na mente todos os dias a noite: e se eu tivesse morrido hoje, o que eu levaria na alma? Isso me faz ver que pesos eu estou carregando. Não há como viver aqui sem passar por momentos ruins, de dor e decepção. Sempre haverá o que nos suje a alma e contamine os pensamentos. Porém, podemos escolher o tempo durante o qual carregaremos esse lixo.


Estou determinada a limpar a minha alma todos os dias. Ainda me deixo contaminar tanto, ainda fico tão cega as vezes!!! Mas algo em mim é absoluto: não há nada mais importante para mim do que ser uma pessoa melhor a cada dia. Não troco meus valores eternos, por conquistas transitórias. Não sujo minha consciência por ninguém, nem por nada, pois ela é meu único vínculo com o que é Real em mim. Não tenho compromisso com dogmas ou ideologias imutáveis. Meu compromisso é com o SER e o SER é movimento, evolução. E não há evolução sem mudanças de paradigmas.


Não tenho medo da morte. Tenho medo da ausência de Vida em plena vida, tenho medo de viver demais no futuro e no passado e não enxergar meu presente, tenho medo de dar mais valor a coisas que a pessoas, de trabalhar demais a ponto de não ter mais tempo para ligar pros meus pais ou para ver o sol se pôr. Tenho medo da pretensão que nos faz achar que somos intocáveis, das certezas políticas ou religiosas que a sociedade impõe, dos paradigmas sólidos que nos cega a visão espiritual. Tenho medo de me recusar a aprender, a ver, a enxergar as pessoas e aceitá-las como são. Tenho medo de passar pela vida sem viver realmente, de chegar no dia da morte com a mente pesada por culpas e inimizades.



A morte... é apenas outra mudança. E como não tenho medo de mudar, não tenho medo da morte. Ela chegou bem perto há um ano para me abraçar e resolveu me dar apenas um conselho: viva no presente, pois o futuro pode não chegar.