terça-feira, 23 de outubro de 2012

APRENDENDO A SILENCIAR A MENTE, por Osho

A verdadeira meditação é sentar-se sem fazer nada — não usar seu corpo nem sua mente. Se você começar a fazer alguma coisa, ou você entrará em estado contemplativo ou estará concentrado, ou executará uma ação — de toda forma, estará movendo-se para fora de seu centro.

Quando você não estiver fazendo absolutamente nada, seja física ou mentalmente, ou em qualquer outro nível, quando toda atividade houver cessado e você estiver apenas sendo, isso é meditação.

Não a pratique, não a faça.
Apenas compreenda-a.

Sempre que você conseguir, pare todo o resto e encontre tempo para apenas SER.

Pensar também é fazer, concentrar-se também é fazer, contemplação é fazer. Mesmo que seja um único momento em que você não esteja fazendo nada e esteja apenas em seu centro, completamente relaxado, isso é meditação.

E quando você se acostumar, poderá ficar nesse estado por quanto tempo quiser.
Com o tempo, poderá ficar nesse estado durante as 24 horas do dia se desejar.

Após ter experimentado esse estado de tranquilidade, então, aos poucos, você começará a fazer coisas, mantendo-se alerta para que seu ser não seja perturbado. Essa é a segunda parte da meditação.

Primeiro, aprender a simplesmente ser, depois aprender pequenas ações: limpar o chão, tomar banho, mas sempre mantendo-se no centro.

Por exemplo, você pode estar lendo esse post, mas sua meditação não será perturbada.
Pode continuar falando, mas em seu centro não há sequer um ruído.
Há apenas silêncio, silêncio absoluto.

A meditação não é contra a ação, pois sua vida continua e, na verdade, torna-se mais intensa, mais cheia de alegria, com maior clareza, mais visão e mais criatividade. Ainda assim, você está nas nuvens, um observador nas montanhas, apenas vendo o que ocorre a seu redor, em seu CENTRO.

Você não é aquele que faz, mas sim o que observa.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sobre liberdade e fé



Anos e anos já se passaram nesse planeta e nós ainda não conseguimos compreender o mecanismo da fé na vida humana. Continuamos confundindo a fé com a crença e nos acorrentamos cada vez mais a uma racionalidade limitada, distanciando-nos consequentemente da Verdade libertadora ensinada por Cristo.

A crença direciona-se sempre a um objeto externo seja ele uma ideia, igreja, mestre, filosofia, ritual ou dogma. Muitos dos que abraçam o espiritualismo, hoje em dia, caem na armadilha da crença sem que disso se deem conta. Passam a direcionar sua atenção e moldar suas vidas com base num mestre iluminado ou numa ideia nova vinda de um missionário rejeitado pelas tradições, e cometem o triste erro de pensar que isso em muito se diferencia do apego dos adeptos a religiões ou instituições. Sempre que nos movemos direcionando a nossa energia, credibilidade e atenção a algo fora de nós, agimos com base na crença, e não na fé. Não importa se esse algo externo é uma ideologia nova, ou um novo método libertador e belo de autoconhecimento, ou um ensinamento sagrado de um dos grandes mestres que essa humanidade já recebeu: se basearmos nossa missão individual apenas nisso, seremos escravos da crença. Viveremos bem e nos movimentaremos com conforto, firmes em nossos propósitos e em paz com nossas consciências, enquanto o objeto externo se mantiver lá nos sustentando. Mas se algo o abalar, estaremos perdidos, confusos e solitários. 

Ao contrário da crença, a fé liberta, pois se baseia na verdade crística que existe dentro de nós. A fé não busca um objeto externo, pois ela alimenta-se em nossa própria consciência, sustenta-se com o amor do nosso SER superior e movimenta-se livremente por esse mundo, sem nos aprisionar e sem se conter em canto algum. Todos os meios externos - religiões, rituais, filosofias, ideologias, ensinamentos, livros, cantos, mestres - todos estes são instrumentos de auxílio, placas no caminho para que encontremos a fé para alimentarmos a nossa existência. A fé verdadeira vem da simples descoberta, do simples percebimento de que somos muito mais do que um amontoado de pensamentos e sentimentos descontrolados, que somos muito mais do que espíritos que nascem e morrem, que sofrem e aprendem; somos essência, somos amor, somos manifestação de uma consciência superior que atua no mundo material através do espaço que abrimos em nossa individualidade. 

Se conseguirmos ver além do que desejamos, além do que pensamos, além do que fazemos e ainda mais além daquilo em que acreditamos, perceberemos que é um simples esforço de despertar, de perceber o que nos sustenta. Descobriremos, então, que todas as crenças, tudo o que é ensinado à humanidade, todos os dogmas, rituais e ensinamentos são apenas pistas deixadas por aqueles que um dia descobriram realmente a fé e a viveram com toda a liberdade que ela promove no indivíduo. A estes só o que resta a fazer é deixar indicativos, pois a busca é pessoal e intransferível, a paz de espírito e liberdade de consciência é uma conquista de cada um, é responsabilidade individual. 

Temos caminhado por tanto tempo confundindo as placas com a estrada, os meios com os fins, e ainda nos questionamos por que não conseguimos nos libertar do vazio que toma nosso coração. A fé é o alimento da existência. Ela nasce no amor incondicional do SER que realmente somos e move-se para iluminar nosso entorno, sem depender de nada do que falamos, que ouvimos ou vemos fora de nós. É essa a fé que liberta, que nos mantém fortes diante das adversidades, que nos faz inabaláveis perante os desmoronamentos que por vezes ocorrem no plano material. 

Estamos em tempos de desconstrução. Filosofias, dogmas, novas ideias, ensinamentos sagrados, religiões, instituições, trabalhos em grupo, tudo em que até agora acreditamos será abalado, destruído e modificado. Aqueles que estiverem apegados à crença, mesmo que disso não se apercebam, os que ainda se movimentam na horizontalidade da existência, que ainda dependem de instrução alheia e os que se movem de acordo com o que o mundo externo oferece sofrerão, pois verão desconstruído o que lhes era inabalável e pensarão ter perdido a fé. Pensarão ser isso um terrível fardo e ficarão confusos, sem saber como caminhar a partir daqui. 

O sofrimento destes cessará assim que descobrirem que a fé não se perde, pois que ela nasce da fonte inesgotável da consciência e não precisa de nada externo e racional para se movimentar. Pararão de sentir dor assim que compreenderem que devem abandonar a crença e descobrir, enfim, a fé libertadora que tantos mestres viveram e sobre a qual falavam. O apego ao que tem que ser desconstruído trará ainda mais turbulência, pois a alma humana, infelizmente e em muitos casos, só consegue abrir os olhos quando as sólidas estruturas da vida externa são abaladas. Não há necessidade de sofrer, não há uma punição sendo imposta a nenhum dos filhos terrenos, mas existe a nova consciência que se instala no planeta e tudo o que a ela não se adaptar, terá que ser desconstruído. 

Essa não é a era da crença, nem de mestres fora de nós. É a era do despertar, da responsabilidade existencial, da conexão com a consciência em nós. Ainda teremos as placas, ainda teremos os instrumentos amorosamente deixados, mas já é hora de caminhar enfim, sem a ninguém culpar, sem de ninguém esperar. Urge o momento de percebemos o mundo em nós, a fé libertadora da consciência, pois sem nos apercebermos disso, nada poderemos fazer pelos que estão a nossa volta. Imersos à crença, em tempos de desconstrução, apenas espalharemos em nosso entorno revolta e incertezas, causando ainda mais sofrimento e atrasando ainda mais a construção do novo tempo. 

Que então a fé se estabeleça, trazendo-nos o equilíbrio e a sabedoria dos despertos, para que saibamos separar o joio do trigo, para que consigamos ler todas as placas com amor incondicional e desapego. Já é hora da liberdade, já é hora de nos alimentarmos diretamente na fonte, para que passemos a nos sustentar na fé inabalável que a ninguém quer convencer, que com ninguém busca discutir, que de ninguém exige coisa alguma. A fé que nos faz amar apenas, que nos dá a capacidade de nos movimentar em meio ao conflito e através da dor, sem nos deixar contaminar pelo sofrimento, sem nos permitir derrubar pelo orgulho, pela vaidade e pelo desejo de saber todas as respostas. É um novo tempo, enfim; e que bom que nem nisso precisarmos acreditar, pois a crença nada nos acrescenta, nunca, em tempo algum e por nenhuma razão.