segunda-feira, 21 de junho de 2010

O amor, Khalil Gilbran:



"Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor.”
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão,
e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas, o amor operará em vós
Para que conheçais os segredos de vossos corações
E, com esse conhecimento,
Vos convertais no pão místico do banquete divino.
Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio
E nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga:
“Deus está no meu coração”,
Mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus”.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
Pois o amor, se vos achar dignos,
Determinará ele próprio o vosso curso.
O amor não tem outro desejo
Senão o de atingir a sua plenitude.
Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos,
Sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho
Que canta sua melodia para a noite;
De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor
E de sangrardes de boa vontade e com alegria;
De acordardes na aurora com o coração alado
E agradecerdes por um novo dia de amor;
De descansardes ao meio-dia
E meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes para casa à noite com gratidão;
E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado,
E nos lábios uma canção de bem-aventurança."

ÁUDIO DA POESIA

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A presença do Eu Sou em mim



Num mundo louco, de tantos indivíduos fechados em si mesmos e enterrados em seus próprios problemas; EU SOU a mão estendida a uma pessoa no chão,EU SOU o sorriso dado por um estranho na rua que faz nascer uma luz num dia comum.

Entre tantas contas a pagar, problemas pra resolver, vida profissional a construir, ônibus lotados a pegar, lanches corridos, sono acumulado e cansaço constante; EU SOU o minuto em que paro para olhar as estrelas, o dia em que consigo ver o pôr-do-sol, EU SOU o tempo em que deixo a água escorrer pelo meu corpo levando embora tudo o que me faz mal.

Entre fanáticos religiosos e zombadores da fé, entre pessoas que dizem morrer por Deus, mas se esquecem do quanto Ele é amor e outros que não conseguem notar a magnífica essência divina que há em tudo, entre aqueles que se importam de mais com o que não podem fazer e de menos com o que devem fazer; EU SOU a fé livre e ilimitada, o simples que também contém o divino, EU SOU a constante reforma pessoal em busca de Deus, EU SOU o amor e a paz que as crianças trazem, mas que os adultos não notam por estarem sempre correndo.

Entre grifes caríssimas e aparelhos sofisticados, tendências da moda e tecnologia avançada, no meio dessa busca desesperada por mais e mais, entre tanta ambição e constante competição pelo melhor lugar; EU SOU o pijama confortável, o pé descalço na grama, a roupa que simplesmente cai bem, EU SOU o suficiente pra mim e pra quem está a meu lado, EU SOU o anseio por um lugar que apenas seja meu, tão só por merecimento.

Entre paixões fugazes e amores de uma noite só, entre "eu te amos" fajutos e olhares vazios, num mundo onde sexo vale mais que amor, onde quantidade é mais que qualidade, onde um corpo bonito é mais valioso que um bom coração, em que as paixões não tem alma, nem raiz, nem asas, mas apenas cama; EU SOU o "felizes para sempre" das histórias infantis, EU SOU a crença, às vezes ingênua, de que o amor é eterno e um só, EU SOU a certeza de que, quando se tem a pessoa certa, fidelidade e lealdade nascem naturalmente, EU SOU a vontade de envelhecer junto, a cumplicidade e o companheirismo para se dividir tudo.

Entre uma infinidade de adjetivos, entre qualidades e defeitos igualmente importantes, entre fraquezas e pensamentos tristes que às vezes batem na porta; EU SOU simplicidade, porque eu simplesmente vivo e tento crescer, EU SOU simplesmente feliz porque possuo uma fé simples, um pensar simples e com isso me torno, cada vez mais e com mais intensidade, simplesmente amor.

Entre tantas perguntas sem respostas, entre o gostar de festas mas também de isolamento, entre a paixão pela água e o medo do fogo, entre a mente no céu e os pés no chão; EU SOU a estrada, o lar em constate reforma, EU SOU a noite de sono, o pulo na piscina, EU SOU tanto a águia e como o leão.

Entre o simples, o errado, o metamórfico...
Sou a presença do EU SOU em mim, SEMPRE...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Manifesto: Declaração de Princípios da Cidadania Planetária



"Exerça plenamente a sua nacionalidade, mas não esqueça: somos todos cidadãos planetários.

Por conseguinte, formamos uma só família ante o cosmos. É bom recordar que, para quem nos vê de fora, nada mais somos do que uma família vivendo em um berço planetário.

Se somos uma família, torna-se inconcebível a falta de indignação diante do estado de miséria – tanto material quanto espiritual – em que vive grande parcela dos irmãos e irmãs planetários.

Existe uma força política na sociedade que, quando estrategicamente direcionada, exerce em toda sua plenitude o direito e o dever de cobrar das forças estabelecidas o honroso cumprimento dos direitos humanos. Essa “força íntima” é pacífica porém ativa; suave na tolerância, jamais violenta, mas perene na exigência contínua de se construir a paz, a concórdia e a inadiável consciência quanto à necessidade de se melhorar as condições do nível de vida na Terra. Exercer essa força no cotidiano das nossas vidas, agindo localmente com a atenção voltada para o aspecto maior planetário, é dever de cada um e de todos.

Respeitar as forças políticas estabelecidas, os governos regionais e nacionais; valorizar as organizações representativas de caráter mundial – imprescindíveis para a evolução terrestre – mas, acima de tudo, pregar a necessária consciência da unidade planetária perante o cosmos.

Na verdade, somos todos cidadãos cósmicos no exercício eventual de uma cidadania planetária, como de resto o são todos os irmãos e irmãs espalhados pelas muitas moradas do Universo.

Porém, devido ao atual estágio de percepção que caracteriza a quem vive na Terra, buscar a consciência do exercício pleno da cidadania, seja em que nível for, é a grande meta a ser atingida.

Se você concorda com os princípios e objetivos da cidadania planetária, junte-se a nós em pensamento, intenção e atitudes.

Assuma consigo mesmo o compromisso maior de construir na Terra esta utopia, que foi e é o objetivo de muitos que aqui vieram ensinar as noções do exercício pleno da cidadania cósmica, testemunhando o amor como postura básica e essencial na convivência entre os seres.

Propague esta idéia, em especial para as novas gerações.

Sonhe e trabalhe por um mundo melhor. E saiba que muitos estão fazendo exatamente o mesmo.

Esta é uma mensagem de fé e de esperança na vida e na nossa capacidade de dignificá-la cada vez mais."

(Jan Val Ellam)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Por Fernando Pessoa


"Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
'Navegar é preciso; viver não é preciso'.

Quero para mim o espírito desta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo
e a minha alma a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria
e contribuir para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça."