domingo, 4 de agosto de 2013

Gotas no oceano


Somos gotas apartadas do oceano. Essa é a verdade. Vivemos em uníssono apenas com nossos desejos, alimentando e sendo alimentados pela ilusão do que os olhos veem, e seguindo, lutando desesperadamente para preencher o vazio existencial que nos marca. Ver o Todo com os olhos da individualidade faz com que a vida pese nos ombros, vez que só o que nos rodeia é a velha competição em que vence o mais forte, o mais esperto, o mais bem relacionado. A cena que se repete no entorno traz contornos da disputa cruel, do massacre aos valores em nome do posto mais alto. E pobre dos bem intencionados e de bom coração, que, ingênuos, são preteridos no jogo de poder que se exalta nesse planeta. Pelo menos assim parece aos que se sentem apartados do Todo.

Veja um mesmo vento, numa mesma paisagem. Para um trabalhador que semeia o campo, pode ser uma brisa, um refresco do calor do sol. Já para o pólen das flores é agente da vida, transporte para a manutenção da espécie. Para um pequeno inseto no chão, é uma tempestade que devasta tudo o que encontra e contra a qual não se pode lutar. Em que perspectiva pautamos a nossa manifestação enquanto seres viventes?

Se nos manifestamos enquanto oceano que se mostra através das gotas, a cena muda o contorno dando novo sentido ao entorno. O mais forte jamais compete, o mais sábio jamais pretere e o bem relacionado em essência jamais perde, pois que repousa na vitória da sintonia com o universo. Gasta-se energia em demasiado correndo-se atrás do que se esvai com o tempo, e somente os que buscam a unicidade do imutável e preenchem o seu próprio vazio existencial podem lidar com o dia a dia dando peso e medida adequados às lutas que se apresentam.

Temos uma doente tendência a tomar por fim o que deve ser apenas instrumento intermediário. E pobre daqueles que se deixam cegar pelo que os olhos podem ver! Essa sim é uma realidade cruel, contra a qual agente externo nenhum pode ir. Somente a vontade interior de cada individualidade pode levar ao caminho do despertar. O caminho de volta pra casa, o trabalho de se preencher o vazio é trabalho pessoal e intransferível, cabendo a cada um apenas a manifestação daquilo que lhe é possível.

Apenas devemos ter em mente que o cansaço existencial advém da perspectiva limitada e não dos eventos em si. E caso nos apartemos em meio à turbulenta e forte ilusão do mundo material, que saibamos retornar ao lar, firmando a própria consciência nos princípios do universo, e tudo mais no entorno tomará os contornos devidos.

Viver não é luta, é arte. Não basta ser forte, há de se ser essência.

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