sexta-feira, 23 de julho de 2010

Crença



Muitos crêem em Deus. Alguns poucos sabem de Sua existência. Outros, afirmam que Ele não existe. Há ainda aqueles para quem Ele seria apenas uma possibilidade.

Muitos dizem que Deus interferiu nas suas vidas. Seja um jogador de futebol que acha que a Deidade o ajudou a derrotar o time adversário na hora de marcar o gol, seja um lutador de boxe que agradece ao Pai Celeste o fato de ter conseguido massacrar o oponente. Outros juram ter recebido esta ou aquela orientação de Deus e não abrem mão de tal privilégio. Os mais espertos arrecadam mundos e fundos em seu nome. Os desesperados clamam seu nome por tudo. Alguns ensandecidos matam em seu nome, dizendo, inclusive, que obedecem a sua vontade e que serão por Ele recebidos com todas as honras quando lá chegarem.

Ivan Karamasov, personagem de Dostoievski dizia: “se Deus não existe, tudo é permitido”. Mas, o fato é que tudo é permitido mesmo Ele existindo. Afinal, temos todos o livre-arbítrio para agir como bem entendermos. Podemos até mesmo achar que Ele nos ajudou a esmurrar ou a derrotar alguém, como se Ele se permitisse rebaixar à primitiva condição humana terrena. Agora, tentemos explicar a pessoas que assim pensam que Deus nada tem a ver com isso! Para elas, quem assim o fizer, poderá mesmo ser tido na conta de herege.
Temer a Deus é uma violência à sensibilidade de quem de fato ama o Pai Celeste. Como pode alguém temer a quem se ama ou por quem se é amado? Conseguimos colocar, entre os atributos da divindade, todo o primitivismo das nossas equivocadas posturas e temos que achar tudo isso normal. E os cultos religiosos que são feitos para agradecer a vitória de um time em um jogo de futebol, etc..?

O que será que Deus pensa disso tudo? De fato, mesmo que Ele não existisse, ao menos como freio moral, deveríamos nós, cultuá-Lo, para tornar suportável a vida na Terra, pensam alguns. Que seja. Mas, mesmo que Ele não existisse, deveríamos ao menos ter a noção que separa um Deus das miseráveis e tolas pretensões do ser terreno.

Ainda bem que, na atualidade, nenhuma pessoa é mais avaliada por sua crença ou mesmo pela ausência desta, mas, sim, pela sua postura e contribuição para com a comunidade que a cerca.

Hoje, temos a liberdade de decidir e essa é uma inestimável conquista de nossos tempos. As pessoas assumem a fé por decisão, e não mais por tradição, se é que necessariamente assumem algum tipo de fé, pois a própria ciência já encontrou espaço por entre as suas hipóteses e certezas, para um possível princípio causal e\ou mantenedor de tudo o que existe. Assim sendo, admitir intimamente a possibilidade de um Deus e viver de forma produtiva é, seguramente, postura mais edificante do que viver alardeando que Ele existe mas, no entanto, sem honrar a sua excelsa existência, com os atos praticados.

Há uma profunda diferença entre fé religiosa (leis e regras da vida monástica ou de cultos diversos que dizem dos aspectos exteriores) e a crença íntima em Deus ou mesmo a aceitação da possibilidade quanto a sua existência.

Discernir quanto ao que nos cabe fazer cá embaixo, independente de crermos ou não no Pai Celestial, é fator de evolução individual.

De toda forma, penso que Ele existe, não se mete em lutas de boxe, em guerras, em partidas de futebol e nem em outras tantas situações que nem seres menos evoluídos ousariam interferir.

Não nos iludamos: a busca do Pai é processo íntimo, individual, discreto, suave e sereno. Podemos caminhar na companhia de muitos. Que seja. Assim fazemos quando nos congregamos a um movimento religioso. Mas, a descoberta ou a percepção do aspecto cósmico e de sua existência se realiza na intimidade da alma de cada um. Pena que o ser humano sequer sabe ao certo se de fato tem uma alma. Se nem isso sabe, é normal que ponha um luva de boxe na mão de Deus ou O vista com a camisa de um time de futebol.

(Jan Val Ellan)

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